top of page
  • Foto do escritorcrisglaser

Seu filho tem mesmo um problema de aprendizagem?

Atualizado: 23 de ago. de 2021

A resposta é: não! No lugar de problema, ele pode ter uma dificuldade ou até mesmo só um jeito diferente de aprender, que exige mais atenção e cuidado

“Meu filho é inteligente, saudável, tem todas as funções corporais normais, mas tem um problema: ele não aprende.” Essa é uma queixa comum a muitos pais e cuidadores de crianças e adolescentes em fase escolar, e não haveria mal algum nela se não fosse pelo termo “problema”. Conceituado como “dificuldade ou obstáculo que requer grande esforço para ser solucionado ou vencido”, esse termo começou a ser usado para referir o que acontecia com crianças que “não aprendiam” ainda no século 19. O real problema: culpabilizar a criança, ou seja, dizer que “ela tem um problema”, é colocar nesse indivíduo um peso injusto, já que o que está por trás de uma não aprendizagem é bem mais amplo e, geralmente, envolve não apenas o aluno, mas também seu entorno, sua escola e até mesmo sua família.


Ainda mais danoso é usar essa não aprendizagem para rotular o aluno com adjetivos como “preguiçoso”, “distraído”, “desatento” ou “desorganizado, porque, além de não ajudar em nada para que a aprendizagem ocorra, contribui muito para diminuir sua autoestima, o que, adivinha? É outro fator que pode causar a não aprendizagem. Todos esses comportamentos de acusação e rotulação por parte do adulto podem levar a criança ou adolescente a mais inibição, mais desinteresse pelo estudo, e menos aprendizagem. A solução, portanto, é ir mais a fundo, entender quais são as verdadeiras causas que estão impedindo o aluno de aprender e, somente a partir disso, com apoio do especialista correto, oferecer-lhe ajuda, com recursos e estratégias variadas que valorizem sua autoestima e estimulem o seu aprendizado como realmente deve acontecer: à sua maneira, no seu tempo. Mas, para isso, seja você pai, professor ou pedagogo, informar-se é preciso!


Para começar, o que é aprendizagem?


Segundo o dicionário da Língua Portuguesa, aprendizagem é o “processo por meio do qual uma nova informação é incorporada à estrutura cognitiva de um indivíduo, por se relacionar a um aspecto relevante dessa estrutura”. Só a partir desse conceito, já podemos começar a entender por que é um erro dizer que uma criança ou adolescente tem um “problema de aprendizagem”. Primeiro, porque fica claro que esse processo é algo individual, ou seja, acontece para cada um de uma maneira, então o que para um aluno pode funcionar muito bem, para outro pode ser “um problema”, mostrando que é apenas uma diferença. Segundo, porque afirma que é aprendizagem quando a informação ensinada é “relevante à estrutura cognitiva do indivíduo”, e, como pais, professores e pedagogos, sabemos que muitas vezes os alunos têm desinteresse em um tema ou matéria, esclarecendo que essa desconexão com o conteúdo, e não a cognição em si, pode ser causadora da não-aprendizagem.


Além disso, é preciso ter clareza de que a aprendizagem, como parte de um processo de construção do indivíduo, se dá não por si só, mas na interação deste com o meio. Meio este que é constituído inicialmente pela família, e depois acrescido da escola e do convívio social. Ou seja, é muito importante o papel de cada um desses elementos no processo de aprendizagem, pois se são parte da influência positiva que podem fazer no aprender, igualmente formam parte do que pode impedir esse aprender. E ignorar essas condições externas, deixando a “responsabilidade” de aprender (ou não) apenas no aluno foi o que trouxe muitos professores e profissionais da educação a esse ponto de rotular como “problema da criança” o que pode ser apenas uma diferente – e, sim, muitas vezes desafiadora – maneira de aprender e, consequentemente, de ensinar com eficácia para todo e qualquer aluno.


O que significa não aprender?


São muitos, diversos e em certo ponto até discrepantes os conceitos dados para a questão da não-aprendizagem dentro da literatura educacional. Por isso, aqui, optamos por entender o significado de uma forma mais ampla e prática. Nesse sentido, podemos dizer que o não aprender não é necessariamente o contrário de aprender, e sim uma maneira particular como o aprendizado acontece para alguns alunos, e que, por ser diferente do “comum” ou “tradicional”, pode ser visto erroneamente como anormal ou problemático. De uma forma mais prática, o fato de um aluno não aprender uma matéria ou conceito na escola pode estar ligado mais ao jeito como o conteúdo lhe está sendo passado que à sua capacidade de aprender, ou seja, a combinação entre aquele ensino específico e aquela aprendizagem específica não é boa (e nesse caso a solução seria simplesmente mudar a abordagem).


Mas não apenas isso. A não aprendizagem também pode derivar de fatores externos e até mesmo atuar como uma forma de proteção ao indivíduo. Uma criança ou adolescente que está sofrendo, ou carente de atenção, ou com alguma questão biológica não revelada, ou passando por medos e dúvidas em qualquer aspecto de sua vida, mesmo nos que extrapolam o ambiente escolar, pode ter dificuldade de aprender, seja como consequência desse seu momento ou como forma inconsciente de chamar a atenção dos adultos ao seu redor. Em outras palavras, muitas vezes a não aprendizagem pode ser um pedido de socorro silencioso – e por isso é tão importante a investigação a fundo no lugar da rotulação ou diagnóstico precoce.


A resposta pode estar em volta


Não é possível descobrir as causas de uma dificuldade de aprendizagem apresentada por uma criança ou adolescente olhando apenas para ele(a). Para entender o significado dessa não aprendizagem, deveremos mergulhar dentro das estruturas familiar, ambiental e situacional deste, aproximando-se da história individual do aluno e observando amplamente todos os níveis de sua vida. Isso porque estudos variados comprovaram que são vários os fatores, internos e externos, que podem estar desencadeando uma dificuldade na aprendizagem. Aqui, falaremos brevemente de cada um deles.


Fatores biológicos: são relacionados à saúde física da criança que, para estar apta a aprender, precisa ter sua integridade corporal perfeitamente boa, com órgãos e sistema nervoso funcionando, além de uma alimentação saudável, já que a carência alimentar também leva à não aprendizagem.


Fatores psicológicos: estão ligados às emoções e sentimentos do indivíduo. Se não forem estáveis e positivos, como em situações de separação de pais, perda de entes queridos, sentimentos de rejeição etc., podem causar angústia, depressão, ansiedade e outras emoções que impedem a aprendizagem.


Fatores neurológicos: são as perturbações do sistema nervoso, que compreende cérebro, cerebelo, medula e nervos. É ele que comanda todas as ações físicas e mentais do indivíduo, e qualquer falha em um dos seus órgãos acarretará em um problema (aí sim!) de maior ou menor grau conforme a área afetada, podendo inclusive causar distúrbios graves como retardo mental, lesão cerebral ou distúrbios de motricidade, que obviamente farão com que o aluno não seja capaz de aprender.


Fatores cognitivos: estão diretamente ligados à capacidade de raciocinar, à inteligência, que, por sua vez, é fortemente influenciada por fatores orgânicos, emocionais, socioeconômicos e culturais. Isso significa que o desenvolvimento da inteligência está intimamente ligado à evolução do sistema nervoso, bem como ao funcionamento de todos os órgãos dos sentidos e à estimulação ambiental.


Fatores ambientais: são todos os que compõem o entorno da criança, como o lar, o tipo de educação familiar que recebe, o grau de estimulação que tem desde cedo, a influência do meio em que vive, o ambiente físico e a metodologia aplicada na escola, e a própria relação dessa criança com seus superiores e pares, como pais, irmão, colegas, professores etc. Se algo dentro de um ou mais desses ambientes pesa negativamente ao aluno, a aprendizagem pode ser comprometida.


Fatores socioculturais: referem-se à situação econômica em que o aluno está inserido, assim como seu meio cultural. A falta de conexão com essa cultura que o cerca, além da escassez de recursos básicos para que possa aprender com sucesso também podem ser causadores determinantes da não aprendizagem.


A solução: uma psicopedagogia acolhedora


Para lidar de maneira justa e acolhedora com as dificuldades apresentadas por qualquer aluno aprendente é preciso, em primeiro lugar e acima de tudo, ver todos como seres potencialmente iguais e capazes. Saber que as diferenças que aparecem são na grande maioria das vezes pontuais, situacionais, culturais, e não estruturais nos ajuda a ir contra a estereotipação e rotulação, e dar um passo inicial em direção à superação dessas dificuldades de aprendizagem. E nesse processo os psicopedagogos têm papel importante, pois são profissionais munidos de recursos para fazer essa investigação quanto às dificuldades apresentadas, tendo acesso a caminhos que ajudam a compreender as diversas direções que levam à aprendizagem e mostrando que muitas vezes o que chamamos de erros é na verdade a estruturação que a própria criança faz para chegar à compreensão de algo.


E quanto mais cedo for feita essa percepção, iniciada a investigação e reconhecidas as origens dessa dificuldade na aprendizagem, melhor para a criança, que retomará não apenas a autonomia no aprender como também o gosto pela vida escolar. Ao professor, muitas vezes seu contato mais próximo no aprender, cabe a tarefa de observar os alunos atentamente, detectar os que apresentam dificuldades na aprendizagem, investigar as causas de forma ampla e encaminhá-los a um especialista. A partir daí é feito pelo psicopedagogo o trabalho de reconstruir o caminho da aprendizagem de maneira mais eficiente para cada aluno, removendo, nesse processo, obstáculos derivantes de um ou mais fatores que podem estar comprometendo o aprender, e trazendo de volta a autoestima.


No entanto, concluímos lembrando que sanar tais dificuldades não é responsabilidade única dos psicopedagogos, psicólogos, professores ou outros profissionais da educação. É imprescindível a participação do meio social e em especial da família, tanto no acolher como no dar suporte, com respeito e paciência, durante o processo de retomada, já que o lar e as relações que se dão nele são um dos principais alicerces para um bom desenvolvimento da aprendizagem. Se quiser saber mais sobre o trabalho de atendimento psicopedagógico que faço com crianças e adolescentes que apresentam alguma necessidade de acompanhamento no processo de aprendizagem escolar, clique aqui.


37 visualizações0 comentário

Comentários


bottom of page