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Felicidade tem limite

Atualizado: 23 de ago. de 2021

Diferentemente do que pensam muitos pais, colocar limites e ser firme com os filhos não os faz sofrer, ao contrário, é o caminho para que eles sejam verdadeiramente felizes

Se você é pai, mãe ou responsável por crianças e adolescentes, provavelmente já se sentiu culpado(a) por não fazer o suficiente por eles ou por não dar-lhes tudo o que gostaria. Até aí, tudo bem, esse sentimento é normal, pois todos nós, adultos participando do processo de formar e educar novos seres humanos, lidamos com a sensação de não sermos bons o bastante como pais ou educadores. Mas, quando esse sentimento nos transforma em adultos permissivos ou submissos às vontades das crianças, aí sim é um problema. Que geralmente começa gerando a perigosa permissividade excessiva, ou a ausência de limites, que a princípio pode parecer uma maneira de ajudar os filhos a serem mais felizes e se sentirem melhores com eles mesmos e conosco, mas, segundo muitos especialistas tem exatamente o efeito contrário.


Prazer versus felicidade


Todo e qualquer pai e mãe quer que seus filhos sejam felizes e, por isso, se esforçam para proporcionar essa felicidade. Mas uma coisa que pode prejudicar muito o processo de educar com limites de maneira saudável é confundir o que é felicidade e o que é prazer. Ao fazer concessões, dar presentes, permitir que o filho faça todas as vontades, o que estamos lhe dando são doses de prazer, não felicidade. E a diferença é brutal: o prazer vem de fora e passa rápido (quando o passeio acaba ou o brinquedo perde a graça, a alegria vai embora junto); já a felicidade acontece de dentro para fora e é construída pela prática de virtudes como amorosidade, gratidão, sabedoria, coragem, responsabilidade, e muitas outras que, justamente, cabem a nós, pais, ensinarmos. Acontece que nem sempre isso é percebido pelas crianças e adolescentes como algo que trará felicidade e aí é que muitos pais se rendem e acabam tomando um caminho equivocado.


Segundo o psicocólogo, escritor e palestrante Leo Fraiman, o problema é que os pais, com a ideia de fazerem os filhos felizes DANDO coisas em lugar de ENSINANDO virtudes, estão criando pequenos imperadores, que não aceitam limites, não sabem esperar, não têm empatia, não lidam direito com relações humanas e acham que são o centro da casa, da escola, do mundo. “Isso é muito maléfico para o desenvolvimento, porque gera um aleijamento cerebral, biologicamente mesmo. O nosso cérebro é treinado pra armazenar coisas na infância e repetir ao longo da vida, então uma criança que não foi exposta a espera, resiliência, empatia, determinação, foco, respeito, limite, gratidão, fica com essas partes do cérebro em falta”, ele afirma.


A consequência de seguir assim, apenas concedendo pequenos prazeres para a criança parar de chorar e reclamar, é que em lugar de filhos felizes criamos filhos inseguros, que não se sentem capazes por si mesmos, não são gratos ou respeitosos com o outro, não veem graça nas conquistas e não sabem o que fazer diante de uma frustração, deixando de persistir em seus objetivos. “E assim eles chegam na juventude tão viciados em não se empenhar, não se frustrar, que, por exemplo, diante de um vestibular difícil, de uma faculdade que exige mais esforço, dizem ‘nem queria mesmo, não vou estudar’. São jovens que vemos por aí aos montes hoje, e que foram enfraquecidos emocionalmente pelos pais que fizeram tudo por eles”, explica o psicopedagogo, autor do livro “A síndrome do imperador”.


Foi sem querer... querendo


A indignação pode surgir em nós ao lermos sobre esses comportamentos dos pais que são nocivos aos filhos porque sabemos que estamos sempre tentando fazer e dar nosso melhor para eles, então, temos consciência de que, se erramos ao exagerar na permissividade, não foi por querer. É verdade, e a primeira etapa importante é justamente não sentir culpa. Porque é ela, a culpa, que pode ser uma das vilãs responsáveis por essa falta de limites. “Seja por trabalhar muito, por não estar presente, por ter perdido a cabeça ao se estressar, essas culpas podem fazer os pais quererem ainda mais ‘compensar’ o que consideram que foram más atitudes sendo mais e mais permissivos”, diz Leo Fraiman, que também aponta como causadores o medo (de o filho ser infeliz, de se revoltar no futuro etc.) e a imitação (o fazer o que todo mundo está fazendo, o se render ao menos trabalhoso).


Porque, claro, dar limites, explicar por que muito tempo na internet não faz bem, conversar sobre comportamentos nocivos, ajudar a criança ou adolescente a entender que aquilo pode não parecer bom para ele naquele momento, mas será no futuro, dá muito, MUITO mais trabalho do que apenas dizer “tá bom, eu deixo”. E muitas vezes o cansaço de um dia de trabalho, ou as preocupações financeiras, ou uma situação de caos como a pandemia que estamos vivendo, nos faz optar pelo caminho mais fácil e que vai gerar menos discussões e reclamações. Mas esse caminho é perigoso, porque, como a criança está aprendendo, a concessão pode se tornar para ela um direito adquirido, e aí os pais perdem o controle e o filho se torna o “chefe” da casa, algo não apenas prejudicial, mas pior ainda inconstitucional.


Superproteção pode ser uma forma de abandono


Segundo a nossa constituição de direitos e deveres humanos, é tarefa da família não ser omissa nem negligente na educação de menores. E o fato é que quando optamos por dar tudo, permitir além da conta e superproteger nossos filhos, estamos tirando deles o preparo emocional e os aprendizados que precisam ter por si mesmos para poderem ser adultos saudáveis, felizes e que são capazes de tomar conta do seu próprio destino. Por isso, dar limites é um dever dos pais e cuidadores, que precisam aprender a fazê-lo sem culpa, sem medos e com convicção. E, por falar nisso, se você ainda não se convenceu dessa importância, aqui vai um dado muito importante: “No pensamento da criança, a falta de limites é codificada como ausência de afeto, de amor”.


As palavras estão no livro “Pedagogia afetiva”, da pedagoga Maria Augusta Sanches Rossini, que afirma que, como seres in-maduros, as crianças precisam de alguém que diga o que pode ou não pode, que ensine como fazer e como não fazer, que imponha limites, que assuma o papel de mostrar o caminho e sirva de modelo de um adulto que é firme, decidido e sabe se posicionar. “Alguns pais tentam ser amigos de seus filhos, principalmente adolescentes. Mas o que eles realmente querem é ter pai e mãe desempenhando o papel de pai e mãe, aqueles que estão sempre prontos a ajudar quando a situação estiver delicada e são o porto-seguro nos momentos de adversidades.” A solução para nós, pais e adultos responsáveis, mudarmos essa maré, que nos vem sendo mostrada nas redes sociais e nos grupos de que fazemos parte, é voltar à compreensão de que dar limite não é dar castigo.


Dar limite é dar de amor


Estabelecer regras e saber segui-las é parte importante para nossa convivência em sociedade, e isso é que deve ser ensinado para nossos filhos quando damos limites. Uma afetividade equilibrada é composta de muito toque, muito abraço, colo, acolhimento, mas também de limites, “nãos”, correções, disciplina, firmeza. Uma boa dica dada por especialistas, principalmente ao lidar com crianças maiores e adolescentes – a fase que mais testa nossos limites –, é começar a conversa com uma postura sincera, demonstrando a sua vontade de acertar como pai/mãe/educador(a) e explicando os porquês dos sins e nãos, apresentando as regras e esclarecendo suas consequências no curto e no longo prazo ao cumpri-las ou não.


Outra questão bastante interessante, antes de decidir se “deixa ou não deixa” algo que a criança pediu, é se fazer algumas perguntas: Será bom pra ela no longo prazo? Fará bem para a sua saúde e o seu desenvolvimento emocional? Transmitirá virtudes que a ajudarão a ser feliz por si mesma, de dentro para fora? A partir dessas respostas sinceras, levando em conta que o ter paz por alguns minutos ao evitar uma reclamação pode custar uma paz futura de que nossos filhos serão capazes e felizes, certamente estaremos prontos para dar os limites como forma de amor, oferecendo o que o psicólogo Leo Fraiman chama de “colo com mola”. “Temos que acolher, receber as queixas, e problemas, mas ao mesmo tempo oferecer possibilidades e impulsionar aquela criança ou adolescente ao aprendizado que poderá gerar, não só no futuro, mas também no presente e na convivência com a família, a genuína felicidade.”


Clique aqui se você quiser saber mais sobre o trabalho que faço de orientação familiar, em que acolho pais e cuidadores que sentem que algo não vai bem com a criança ou adolescente, seja na escola ou em casa, mas não sabem direito como lidar, e os ajudo a chegar nas respostas para tais comportamentos e nas melhores maneiras de lidar com eles.


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