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Chegou a hora de voltar ao trabalho...

Atualizado: 23 de ago. de 2021


Para muitos pais não é uma opção sair do emprego, e precisam escolher o melhor lugar para deixar seu bebê após os meses de licença. Aqui vão dicas para ajudar nessa desafiadora decisão


A chegada de um bebê costuma fazer uma revolução na casa e na família. Nas primeiras semanas e meses de vida da criança, os pais centram toda a atenção naquele serzinho, em entendê-lo, alimentá-lo e ajudá-lo em suas primeiras experiências neste mundo. Mas quando acaba a licença maternidade, que no Brasil dura entre três e seis meses (mais que a licença paternidade, que geralmente é de poucas semanas), chega um momento desafiador: escolher onde ou com quem deixar o bebê para voltar ao trabalho. Por ser sua primeira experiência com cuidadores que não são os próprios pais, seja qual for a escolha o bebê precisa se sentir seguro, esse é o mais importante. Por isso, para algumas famílias deixá-lo com avós ou uma babá em casa acaba sendo uma opção ao tradicional berçário. Mas qual é o melhor caminho? E o que se deve considerar na hora de bater o martelo na decisão? Vamos tentar ajudar na escolha com algumas dicas e considerações importantes a se fazer.


Cuidado de qualidade

A primeira coisa importante a considerar é que essa é uma fase crucial para o desenvolvimento da criança, que está vivendo suas primeiras experiências, criando conceitos e entendendo a si mesma como ser separado da mãe. Mas o bebê só pode construir sua própria história narrativa se tiver um adulto que exerça a função de identificar e de interpretar seus sinais corporais, dando-lhes sentido e atribuindo-lhes significados. Por isso, ter um adulto acompanhando de perto e todo o tempo é fundamental, mesmo porque, ao contrário do que se acreditou por muito tempo, hoje sabe-se que desde o início da vida o bebê, ao invés de estar centrado sobre si mesmo, engaja-se em trocas emocionais significativas com seus cuidadores.

Mas a atuação desses cuidadores, sejam eles profissionais como uma babá e os professores ou um parente como a avó, precisa ser de qualidade, para que as interações estabelecidas na primeira infância com adultos sejam capazes de promover a construção da subjetividade e façam o papel de sustentar o exercício da parentalidade, em lugar de substituir a ausência física ou afetiva dos pais. Em outras palavras, não se trata apenas escolher uma pessoa ou lugar com quem/em que deixar o seu filho, e sim atentar para o quão preparada essa pessoa/lugar está para atender as suas necessidades e proporcionar o cuidado de maneira integral, dando espaço para que ele cresça e se desenvolva em todos os aspectos – físico, emocional, cognitivo etc. – esperados para a sua idade.

Isso significa que não há certo ou errado em escolher deixar o bebê em casa com uma babá ou mesmo com a avó ou algum outro familiar em lugar de matriculá-lo em uma instituição profissional. Inclusive, se for um ambiente saudável, é interessante que o bebê passe o maior tempo possível em seu lar. Mas é essencial acompanhar esse cuidado, identificando se o adulto, para muito além de trocar fraldas, alimentar e proporcionar os cuidados básicos, tem preparo para questões como: demonstrar respeito ao lidar com a criança fisicamente e verbalmente fazer com que ela se desenvolva mais segura de si; permitir a participação da criança nos seus próprios cuidados; respeitar as experiências que a criança vive, escolhe e deseja viver, permitindo que ela conheça e compreenda o mundo de maneira independente; valorizar as atividades autônomas da criança, contribuindo para o seu desenvolvimento emocional, afetivo, cognitivo, psicomotor e social. Por essa razão muita pesquisa e ponderação deve ser feita antes da escolha final.


Creche, berçário ou escola?

Vale a pena explicar aqui a diferença entre esses três nomes no que se refere à primeira entidade a receber os bebês. O berçário é uma instituição que atende bebês entre três meses e um ano e meio de idade. Já a creche acolhe bebês e crianças entre três meses e três anos de idade. Por fim, a primeira escola, ou pré-escola, ou jardim de infância, é a que recebe crianças que têm entre quatro e cinco anos. Ou seja, é possível que uma instituição seja apenas um berçário, ou seja uma creche, que poderia receber o bebê e acompanhá-lo até os três anos, ou ainda uma escola que conta com um berçário, e atenderia tanto os bebês quanto as crianças até cinco anos, antes que entrem no ensino fundamental.

Na hora da escolha entre essas opções, é importante não pensar apenas na "facilidade" que seria deixar o bebê em um lugar que poderá atendê-lo até a pré-escola. Primeiro, porque os cuidados que um bebê necessita são totalmente diferentes daqueles que um pequeno de cinco anos precisará, então não necessariamente uma instituição será boa para ambas as funções. Segundo, porque não há nenhuma garantia de que aquela escola seguirá sendo uma boa opção para a sua criança conforme ela for crescendo e se desenvolvendo e demonstrando suas características pessoais e de aprendizado. E terceiro, porque podem haver mudanças de endereço, de formato familiar e muitas outras que acarretariam uma mudança de escola. Portanto, deixe para lá as possibilidades para o longo prazo e se foque no que realmente será o melhor para o seu bebê neste primeiro momento de contato educacional.


Cada detalhe conta

Apesar do trabalho desenvolvido em um berçário ou creche não ser voltado para ensinar os conteúdos tradicionais, o local deve possuir atividades pedagógicas que favoreçam o crescimento sadio dos bebês e sejam específicas para sua idade. Não adianta nada, por exemplo, ter uma súper estrutura física e brinquedos caros (que o seu bebê não saberá quanto custam!), em vez de um ambiente aconchegante e bem equipado para a alimentação, o sono, o banho e os outros cuidados básicos. Tudo permeado por afeto, muito afeto, tão importante para o bebê se sentir amado mesmo estando longe dos pais. E a melhor maneira de escolher nesse sentido é visitar mais de um local, de preferência sem hora marcada, para poder analisar a rotina mais real dos profissionais com os bebês.

Nessa visita, analise como a equipe se comporta com os bebês, verificando se há não apenas profissionalismo, mas também amor no que está sendo feito. Verifique ainda se a quantidade de profissionais é suficiente para o número de crianças – o recomendado são no máximo oito para cada duas cuidadoras. Aproveite também para conversar com a coordenação pedagógica e tirar dúvidas sobre os valores que o berçário defende, entendendo se eles são compatíveis com os da sua família. Aliás, conversar com outras famílias que já tenham seus filhos nessas instituições pode ser outra grande ajuda, pois podem dizer suas impressões como clientes reais.

Limpeza, mais do que em qualquer outra idade, é fundamental, já que pode ser naquele chão que o seu bebê vai começar a engatinhar e dar os primeiros passos. Repare se o berçário mantem bons hábitos de higiene para evitar a proliferação de doenças, que são comuns na fase infantil, verificando se os ambientes são limpos e organizados, com ventilação e iluminação adequadas. Esquinas de móveis devem estar protegidas, tomadas cobertas e produtos de limpeza e outros materiais prejudiciais à saúde longe do alcance dos bebês. Como “bônus”, alguns berçários possuem, além da equipe pedagógica, profissionais da área de saúde, como nutricionista e enfermeira. Caso não seja o caso do local que você está conhecendo, pergunte qual é o procedimento adotado quando há uma emergência de saúde de um bebê ou se ocorrer um acidente.


Bebê não é criança

Não há cartilha ou uma lei que regulamente as atividades que precisam ser feitas pelas instituições com os bebês, por isso é importante acompanhar uma parte da rotina da instituição para garantir que ela seja bem estruturada e com horários fixos, essencial nessa fase para incentivar o desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial e social dos bebês. A equipe pedagógica deve propor atividades lúdicas e variadas, com música, contação de histórias, brincadeiras em grupo, entre outras. Já os brinquedos, devem ser higienizados, adequados a cada faixa etária e guardados de maneira organizada, sendo oferecidos aos poucos, atitude importante para não estressar o bebê com hiperestimulação. Ele terá tempo no futuro para aprender muitos conceitos e ser bastante impulsionado em seu aprendizado, mas nesse momento o cuidado com os excessos é mais importante, assim como a qualidade das relações.

É necessário também que a instituição deixe claro para os pais como deve ser a atuação do educador no berçário e como a escola lida com o aprendizado nessa faixa etária, o que esperam perceber no desenvolvimento dos bebês e como tudo isso será passado aos pais, para que possam acompanhar. Mais que ensinar, nessa fase os cuidadores têm o papel de serem atentos e totalmente dedicados a esses pequenos. Algumas atitudes que precisam ter para isso são: observar e perceber cada criança, em sua singularidade; olhar em seus olhos; fazer gestos delicados; pedir sua colaboração, mesmo quando ela ainda é bem pequena; reagir positivamente às suas manifestações; dar o tempo necessário para que ela aproveite cada experiência e atividade; não interromper os cuidados quando está com uma criança, focando apenas nela; narrar com suavidade tudo o que está acontecendo e o que vai acontecer; nomear o que a criança está sentindo (como fome ou sono); apresentar os objetos que está usando e deixar que ela os manipule. Pode parecer muita coisa a considerar, mas lembre-se, você estará entregando aos cuidados daquele local o seu bem mais precioso!


"Preciso mesmo trabalhar?"

Acho interessante trazer à consciência uma pergunta que muito poucos pais e mães se fazem. Já falamos do quanto é importante para o bebê ter o máximo de contato possível com os pais nesses primeiros meses e anos de vida, e como isso pode influenciar seu futuro escolar. Tendo isso em mente, creio que vale a pena, como adultos conscientes, em lugar de se deixar levar pelo que "todo mundo faz" – voltar ao trabalho depois da licença –, parar por um instante e se perguntar: "eu realmente PRECISO retornar ao emprego neste momento?". Entendo que muitos fatores envolvem essa decisão, e que em um grande número de famílias a resposta será sim, devido ao ganho de salário que precisa acontecer para manter a situação estável. Mas também percebo que há muitas outras famílias que têm uma renda confortável se apenas o pai, por exemplo, voltar ao trabalho, e ainda assim muitas vezes a mãe nem considera deixar o seu cargo de momento.

Certamente há que se considerar a carreira, os objetivos profissionais, ponderar o que significaria sair do mercado de trabalho e como essa mãe poderia seguir sentindo-se produtiva. Mas também é válido pensar que naqueles primeiros meses a presença dela em casa pode fazer uma grande diferença, tanto para o desenvolvimento do bebê quanto para a relação familiar, e que talvez aproveitar esse tempo, que não vai voltar, para curtir de perto o crescimento dos filhos pode ser uma realização maior que alcançar, naquele momento, qualquer resultado profissional. Ainda assim, é compreensível que ambos os pais apenas decidam que sim, querem voltar ao trabalho, e isso não significa filhos problemáticos no futuro. Mas vale a pena nesse caso estar atento a quanto tempo se está dedicando a esses pequenos, e talvez fazer um remanejamento de agendas, de horários, ainda que por um tempo, para não deixar por muitas horas o bebê sem o contato direto com mãe e pai, porque essa é a ligação mais importante e que melhores frutos pode dar.


Se quiser conhecer mais o trabalho que faço de orientação familiar, em que ajudo a analisar a rotina para entender qual é a melhor opção de escola ou cuidado para cada criança, clique aqui.


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