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No ritmo da rotina

Atualizado: 23 de ago. de 2021

Como o contato com a música pode ajudar as crianças e alunos de todas as idades

a lidarem e organizarem melhor sua rotina escolar


“A música é linguagem do coração humano.” A frase, do artista e pensador alemão Richard Wagner, é poética e parece nada ter a ver com a vida escolar de crianças e adolescentes. Mas a verdade é que essa arte, apreciada no mundo todo, tem algo muito importante a ensinar para os nossos pequenos em idade escolar: assim como sem ritmo não é possível criar uma música, sem rotina não é possível criar um bom aprendizado. Ter ritmo é indispensável não apenas para a música e as batidas do coração, mas também para uma vida organizada e bem-sucedida, na escola e no futuro profissional, e é sobre usar esse recurso musical para ajudar seus filhos a entenderem a importância de ter uma rotina que vamos falar aqui.


Música para os ouvidos – e o cérebro


Muito mais que um passatempo, um hobby ou uma distração, a música é reconhecida por muitos pesquisadores como uma espécie de modalidade capaz de desenvolver a mente humana. Estudos realizados por pesquisadores alemães, por exemplo, mostraram que pessoas que analisam tons musicais apresentam uma área total do cérebro utilizada 25% maior em comparação aos indivíduos que não desenvolvem trabalho com música. Nos estudantes os resultados são ainda mais impressionantes: os que têm conhecimento das notas musicais e divisões rítmicas obtiveram notas 100% maiores que os demais colegas em relação a um determinado conteúdo de matemática.


Isso porque a música, que no sentido amplo pode ser entendida como a organização temporal de sons e silêncios (pausas) tem a capacidade de atingir diversas áreas do cérebro e da percepção humana, promovendo o equilíbrio de hormônios, proporcionando um estado agradável de bem-estar e ao mesmo tempo facilitando a concentração e o desenvolvimento do raciocínio. Composta de melodia (sequência de notas organizadas sobre uma estrutura rítmica que encerra algum sentido musical), harmonia (combinação de notas musicais para produzir acordes e logo produzir progressões de acordes) e ritmo (organização do tempo segundo a periodicidade dos sons), a música está presente há séculos no mundo e, por suas incontáveis variedades e formas, chegou também às escolas como ferramenta de ensino.


Desenvolvimento psicomotor


A valorização do contato da criança com a música já é existente há tempos. Milhares de anos atrás o filósofo grego Platão dizia que “a música é um instrumento educacional mais potente do que qualquer outro”, e isso foi comprovado pela ciência, que categoriza a música como uma das ferramentas que mais treinam o cérebro para formas relevantes de raciocínio, tanto em seres em formação (crianças) quanto em adultos saudáveis, passando por pessoas que sofreram algum dano cerebral e também são ajudadas pela música no restabelecimento de funções, inclusive psicomotoras.


Nas escolas, as atividades musicais há muito são oferecidas, em maior ou menos nível, mas sempre presentes, por oferecerem diversas oportunidades para que a criança aperfeiçoe suas habilidades motoras, aprendendo a controlar seus músculos e movimentar seu corpo com desenvoltura. Além disso, aquele nosso amigo, o ritmo, tem um papel muito importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso, porque toda expressão musical ativa age sobre a mente da criança, favorecendo um impacto emocional à mente e aliviando as tensões.


E possibilidades para usar essa ferramenta há sem limites. Desde cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas e pés, tocar instrumentos, dos mais simples aos mais complexos, decorar as letras, descobrir os sons, brincar com os ritmos. Todas são experiências importantes para a criança, uma vez que permitem que se desenvolva muitas áreas: a coordenação motora, que ajuda na escrita; a percepção sonora, que ajuda na fala; e a absorção rítmica, que justamente pode contribuir na hora de construir a tão importante rotina escolar.


Bagunça na casa, bagunça na mente


Não tem jeito, o ambiente em que vivemos e a forma como ele se apresenta a nós influenciam diretamente na nossa performance, sejamos crianças, adolescentes ou adultos. Por isso, a primeira coisa fundamental aqui é entender que nenhum aluno vai render tudo o que poderia e tirar as melhores notas que é capaz se não tiver uma vida escolar, tanto em sala de aula quanto em casa, organizada, em termos de tempo e de espaço. Na escola isso é mais fácil de acontecer pois as aulas costumam já ser distribuídas em períodos específicos, assim como o ambiente tem as suas regras de organização. Por isso é em casa que é preciso vencer o desafio de manter as mesmas condições propícias para o aluno estudar, fazer as tarefas e aprender.


Em outras palavras, os pais ou cuidadores têm, em casa, o papel que o professor tem na escola de ser o “maestro” e organizar a rotina das crianças/adolescentes, o que significa organizar uma grade de horários que inclua o momento de estudos além de descanso, brincadeiras e outras atividades, e também proporcionar um ambiente limpo, com espaço e um entorno tranquilo o suficiente para que a concentração seja possível. Nem sempre é fácil, sabemos. Muitas famílias têm mais de um filho, espaços reduzidos em casa e horários de trabalho dos adultos, que acabam vivendo o dia a dia no “deixa a vida me levar”, fazendo o que é possível e até tendo medo dessa palavra que muitos veem como sinônimo de regras difíceis e chatas de seguir. Por isso, é preciso começar do começo...


Ressignificando a rotina


Se você é mãe ou educadora sabe que essa palavra pode significar um “Deus me livre” para crianças e alunos, especialmente os que estão naquela idade de “faço o que quero, ninguém manda em mim”. Para os adultos e cuidadores, por outro lado, pode ser algo difícil de se manter, custoso e que dá trabalho. Por isso é que, antes de impor, é importante ressignificar a rotina, para todos os envolvidos. Porque a verdade é que a rotina é importantíssima para que a criança se sinta segura e possa desenvolver sua autonomia, tendo “controle” das atividades que vai realizar e em que ordem. E isso tudo contribui também para o seu processo de ensino-aprendizagem, uma vez que ela se vê como um sujeito capaz de desenvolver suas próprias tarefas, e melhora suas conexões cognitivas para seguir aprendendo e, principalmente, querendo aprender mais.


E aí é que entra a música como uma ferramenta de (re)conexão com a rotina. Assim como as notas e ritmos se repetem em uma sequência e só assim se cria a música, a repetição de determinadas práticas dá estabilidade e segurança aos alunos. Assim como a música tem o poder de acalmar as nossas sensações, na vida escolar saber que depois de determinada tarefa ocorrerá outra, diminui a ansiedade das pessoas, sejam elas de qualquer idade. Isso não significa que devemos transformar o dia a dia de estudos em uma planilha com horários rígidos e inflexíveis (porque a música também tem pausas, silêncios e contra-tempos), mas sim adequar as atividades diárias ao ritmo (olha ele aí de novo!) da criança e da família.


Com a batuta na mão


Na experiência de Loris Malaguzzi, pedagogo italiano responsável pela criação da abordagem Reggio Emilia, o ingrediente mais importante nessa harmonia é o tempo, que deve ser utilizado de forma a considerar as necessidades e os ritmos das crianças, moldando o arranjo do espaço e do ambiente, de modo que todos usem e desfrutem com alegria do momento de aprender. Nessas escolas a música está presente em muitas das atividades, e trazê-la para a rotina em casa pode ser uma maneira leve e divertida de ajudar nossas crianças e adolescentes a entrarem no ritmo do aprendizado.


Como pedagoga, o trabalho que faço de orientação familiar é o que me permite entrar nessa “orquestra” chamada família e ajudá-los a fazer com que a harmonia seja algo presente e as atividades escolares sejam fluidas em casa, de maneira que alunos se sintam felizes e realizados aprendendo e os pais sintam que estão fazendo seu papel como maestros, ditando o ritmo dessa melodia e tirando de cada um dos filhos o melhor que são capazes de fazer. Se você quer saber mais sobre como funciona a orientação familiar clique aqui.



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