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Aprender (não) é brincadeira

Atualizado: 23 de ago. de 2021

Ao contrário do que se pode imaginar, deixar as crianças brincarem significa contribuir para o seu aprendizado e um melhor desempenho escolar



Brincar. Segundo o dicionário da língua portuguesa, “divertir-se com jogos infantis; entreter-se com objetos ou atividades lúdicas; simular situações da vida real; distrair-se, folgar, recrear-se”. Somando essas definições à nossa experiência pessoal da infância, em que brincar era o oposto de estudar ou fazer lição de casa, podemos chegar à conclusão de que brincar atrapalha o aprendizado de uma criança, certo? Não, totalmente errado! A brincadeira é para a criança como o trabalho para o adulto: por mais que aprenda os conceitos teóricos, só poderá compreendê-los de fato ao levá-los para a prática, aplicando-os realmente. E isso acontece justamente no brincar, tornando essa atividade extremamente importante não apenas na infância, mas em todas as fases da vida, além de um grande aliado no processo de ensino-aprendizagem.


Brincar é coisa séria


Há anos o brincar tem sido fonte de pesquisa em diversas áreas da psicologia devido à sua influência no desenvolvimento infantil. E as conclusões sempre giram em torno das inúmeras vantagens que a atividade proporciona para a constituição da criança, capacitando-a para uma série de experiências que contribuem para o seu desenvolvimento futuro. Isso porque, ao brincar, a criança expressa sua linguagem, por meio de gestos e atitudes, que estão repletos de significados, uma vez que ela investe sua afetividade nessa atividade. Por isso, seja um jogo mais elaborado ou um simples “faz de conta”, a brincadeira deve ser encarada como algo sério e fundamental não apenas para o desenvolvimento infantil como para o sucesso da aprendizagem escolar.


Isso porque é na brincadeira, no representar, no fantasiar e divertir-se em meio a possibilidades tanto reais quanto imaginárias, que a criança descobre novas maneiras de agir, entra em contato com novos conceitos, palavras e conteúdos, simula atitudes, erra, acerta e... aprende. E tudo de forma lúdica, mais aproximada do seu mundo compreensivo, o que ajuda a reforçar a experiência como positiva e desenvolve na criança uma vontade de seguir aprendendo. E esse estímulo acontece em várias dimensões do indivíduo, como a física, a social, a cultural, a emocional, a afetiva e, claro, a intelectual, que está diretamente ligada às conexões que o cérebro faz ao aprender.


Ao proporcionar situações imaginárias durante um jogo ou representação, por exemplo, a brincadeira provoca o desenvolvimento cognitivo, à medida que faz a criança “precisar pensar”, encontrar respostas, raciocinar, sem nem perceber que está aprendendo. Se envolve outras crianças, o brincar proporciona ainda situações em que ela terá que aprender a lidar com o outro, seja de maneira competitiva ou colaborativa, fazendo com que ocorra o desenvolvimento social e aumentando o repertório de maneiras de interagir e se relacionar com outras pessoas, uma habilidade que será tão importante em todas as fases de sua vida, tanto acadêmica quanto, mais adiante, profissional.


Um faz de conta de verdade


Desde o seu nascimento, a criança cresce pautada por regras e normas que a fazem ter de adaptar-se para “se encaixar” no mundo em que está inserida. Isso é normal, parte de viver em sociedade e necessário para a convivência com outros seres humanos; porém, durante esse processo de adaptação, a criança acaba se desfazendo de parte do “self” (ou ego), ou seja, o seu eu mais puro e autêntico. Ela aprende que em muitas situações “não se faz isso ou aquilo”, ou que “este comportamento não é aceitável”, ou que “aqui não se pode ser assim”. Mas advinha em que momento tudo é mais aceitável, e quase tudo “pode”? Exatamente, na brincadeira!


Se no “mundo real” a criança tem de se encaixar em normas, quando está brincando acontece o contrário: as regras é que se encaixam no seu mundo! E ali, naquela brincadeira, ela se permite mais, se conhece mais, deixa que seu “self” seja mais livre e autêntico, sente menos medo de ser inadequada, faz testes de autoridade, impõe seu espaço, cria cenários alternativos, questiona o universo dos adultos, descobre o que verdadeiramente lhe agrada e importa e... aprende. Muito! Aprende também sobre habilidades, conceitos e o mundo que a rodeira, mas, principalmente, sobre seu mundo interno. E conhecer a si mesma é algo extremamente importante inclusive para o processo de aprendizagem escolar, porque, como já se sabe tão bem, cada pessoa aprende de um jeito, e há uma maneira mais fácil de ensinar a cada indivíduo. Mas é impossível chegar a esse “jeito individual mais fácil de aprender” sem autoconhecimento.

É no brincar, portanto, que ela se permite ser mais “dona de si”, melhorando sua autoestima e a ajudando a desenvolver relações de confiança, consigo e com os demais. Tudo isso lhe ajudará a estar mais segura de si e de que é capaz de agir, aprender e alcançar objetivos quando estiver em situações “da vida real”, como o aprendizado na escola, provas, lições de casa, argumentações com seus colegas, familiares e professores e, futuramente, seu trabalho.


Todos pela brincadeira


Psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, filósofos, escritores e mais um sem número de nomes importantes para o desenvolvimento da educação no mundo já realizaram estudos, escreveram artigos e publicaram livros em que apoiam o brincar como uma atividade imprescindível no processo de aprendizagem infantil.


Para Donald Winnicott, pediatra e psiquiatra inglês autor de (entre outros) o livro “O brincar e a realidade” e influente no campo do desenvolvimento psicológico, não apenas as crianças precisam de brincadeira no dia a dia. “É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)”.


Por sua vez, Lev Vygotsky, psicólogo russo que foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função de suas interações sociais e condições de vida, via o ato de brincar como “uma atividade humana criadora, um importante processo psicológico, uma fonte de desenvolvimento e aprendizagem, capaz de constituir o pensamento infantil”.


Por fim, trazemos os conceitos de Jean Chateau, escritor francês que, em sua obra “O Jogo e a criança”, fez um estudo aprofundado sobre essa relação. “Para a criança, o jogo é trabalho, onde encontra seu próprio mundo e pode ser o que quiser. Pelo jogo, a criança se desenvolve, cresce, escapando do domínio sob o qual ela nada mais era do que um ser submisso, para se tornar protagonista.”


Em minha experiência, como pedagoga e psicopedagoga e como mãe, vejo que, além de todas essas características, o brincar ensina a criança a tomar decisões, expressar seus sentimentos e valores, partilhar e usar o corpo, os sentidos e os movimentos como ferramentas no processo de aprendizagem.


Brincando no acompanhamento escolar


Por tudo isso é que as brincadeiras são ferramentas tão importantes nas atuações do pedagogo e, tanto no atendimento psicopedagógico quanto no acompanhamento escolar, formam parte imprescindível dos encontros, trazendo diversos benefícios:


- prevenção de problemas, possibilitando estratégias para a resolução de conflitos

- cura da aprendizagem, trazendo de volta o gosto e alegria de aprender

- aumento do desenvolvimento cognitivo e aceleração da aprendizagem

- conscientização de potencialidades da criança

- resgate de processos internos de compreensão da realidade tanto nos aspectos cognitivo e afetivo-emocional quanto de conteúdos escolares

- desenvolvimento de capacidades como atenção, concentração, afetividade e outras

- autoconhecimento para a criança e conhecimento da criança por parte do profissional, que logo poderá ajudar os pais com mais informações

- avaliação de questões com intervenção para orientação no percurso do aprendizado

- conhecimento de regras e respeito a normas com autonomia e acolhimento ao self

- sensação de que aprender é algo gostoso, criativo, que faz a criança se sentir confortável para desenvolver suas representações simbólicas.


Se você gostaria de conhecer mais sobre o acompanhamento escolar que faço, ajudando a criança a organizar melhor seus estudos e ter paixão por aprender, a partir de brincadeiras, jogos e outros recursos pedagógicos, leia aqui.



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